"Sereias do Nordeste", por Martins Filho & Oitavo Lucas.
A cambada segue adiante. É difícil andar pra frente quando se anda de lado. O trabalho de limpar o manguezal é grande. Mas compensa. Algas, plânctons, pequenos peixes, tudo que o mar larga no solo. E lixo. Essa parte é culpa dos humanos.
Proteger 700 mil ovos pra chegar agosto e ter que correr. Largar pata no meio do caminho pra despistar. Esperar crescer pra poder comer de novo. Comer. Comer pra sobreviver. Coisa que humano não entende. Não com caranguejo. Humano come caranguejo porque é bonito. É bonito e chique ver a gente fervendo vivo. Pegar aquele instrumento de tortura só pra chupar a carne macia. Humano não é cambada. Humano é predador.
Pelo menos, os acompanhamentos são favoráveis. Vinagrete é um banho suave na água do pôr-do-Sol. Arroz é bonitinho, engraçado. Pirão é pesado mas confortável, como areia molhada. Pimenta é coisa do cão. Mas nada esquenta depois da panela quente. Nada.
Eles ficam tão relaxados, os humanos. Sorridentes, com seus copos cheios e suas risadas alegres. Não é que tenha sido uma vida boa. Eu sempre fui um fugitivo. Mas queria viver momentos assim. Momentos de caranguejada. Cambada é boa. Mas cambada não olha pra cima. Cambada não bebe cerveja. Cambada não canta Calcinha Preta.
Caranguejo daria uma vida de andar pro lado só pra andar do lado desses humanos divertidos. E dá.
Conheça as outras artes do projeto na zine Sereias do Nordeste.
Pôster A4 Caranguejada Sereias do Nordeste
Papel AP 250g colorido A4
Em até 05 dias úteis.