"Sereias do Nordeste", por Martins Filho & Oitavo Lucas.
"Não somos Iracema."
Não há só uma mulher indígena. A personagem Iracema, protagonista de estátuas, monumentos, filmes, musicais e histórias em quadrinhos, surge no famoso romance de José de Alencar sobre a formação do estado do Ceará. A indígena sempre nua, glorificada no texto por seu estado virginal, se vê no centro de uma disputa entre dois povos onde o homem branco tinha de colocar seu dedo. Um amor à beira dos rios, um triângulo de conflitos étnicos, uma guerreira que se revela e sua beleza constantemente exaltada como talvez seu traço mais importante na obra.
305 etnias só no Brasil contemporâneo. Imagine quantas outras mais antes do início de um dos mais longos genocídios da História. Os tabajaras e os potiguaras do texto de Alencar, com seus tempos guiados pela Lua e seus nomes com erros de etimologia, tem suas necessidades marcadas pelo conflito e seu sagrado representado na virgem, seja ela a natureza ou o corpo de Iracema. Este fetiche da virgindade sagrada tem muito de cultura europeia, e o amado branco de Iracema vem com ares de príncipe mesmo em luta armada.
O autor ou o livro não nos trazem bem esta lição, mas é importante aprendê-la: Nosso olhar, ideias e fantasias sobre o outro não podem definí-lo. Deixe que este mesmo se defina.
Conheça as outras artes do projeto na zine Sereias do Nordeste.
Pôster A4 Iracema Sereias do Nordeste
Papel AP 250g colorido A4
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